Aos poucos, Bolsonaro usa, e sabe usar, o medo como arma afiada contra seus adversários. Foi assim das sete vezes em que se elegeu deputado federal, da vez que se elegeu presidente da República, e novamente agora quando é candidato à reeleição.
Enrola-se na bandeira do bem e diz que o mal está às portas para derrotá-lo. E que se a esquerda, barrada por ele em 2018, voltar ao poder daqui a três meses, não mais sairá. Não importa que ela na história da República só tenha governado por poucos anos.
A alternância no poder é um dogma da democracia. Os partidos Democrata e Republicano se alternam no poder nos Estados Unidos, socialistas e conservadores na França, conservadores e trabalhistas no Reino Unido, mas aqui não deveria.
Repete, para enganar seus seguidores, que joga e que continuará jogando “dentro das quatro linhas da Constituição”. Ao mesmo tempo, ameaça fechar o Supremo Tribunal Federal, desacredita o sistema de votação e está pronto a dar um golpe se perder.
E vai aqui, por sua originalidade, a maneira recente que encontrou de valer-se do medo como um espantalho a seu favor: diz que a Justiça irá prendê-lo e aos seus filhos se ele não se reeleger. E para evitar que isso aconteça, só lhe dando um novo mandato.
Está em fase de testes. Nos últimos dias, aliados de Bolsonaro exploraram a notícia da prisão da ex-presidente da Bolívia Jeanine Anêz, condenada a dez anos de cadeia sob a acusação de perpetrar um golpe contra o ex-presidente Evo Morales.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), fritador de hamburger quando vivia nos Estados Unidos, credenciado, portanto, a aventurar-se no ramo da diplomacia como embaixador do Brasil em Washington que nunca foi, comentou a prisão de Anêz:
“Consegue entender o perigo que o Brasil vive?”
O alerta foi dado. Resta saber se vai atrair votos de eleitores que se dizem indecisos ou que admitem trocar de candidato.