Reduto bolsonarista desde a esmagadora vitória em 2018 também vive queda na aprovação do presidente
Por Diogo Magri, João Pedroso de Campos, Tulio Kruse Atualizado em 3 jun 2022, 09h10
- Publicado em 4 jun 2022, 08h00
Edição: Carlos Renner Prestes
Em uma casa de shows com capacidade para 5 000 pessoas e tomada por simpatizantes, no bairro Anchieta, na divisa entre Porto Alegre e Canoas, no Rio Grande do Sul, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz que gostaria de cantar duas músicas populares, Querência Amada e Céu, Sol, Sul, Terra e Cor, que exaltam as qualidades do estado e de seus moradores — mas recua dizendo não saber cantar, no que serve de deixa para a plateia entoar parte de uma delas. Antes, havia citado o Internacional, para quem disse torcer, e o Grêmio, que chamou de “grande equipe” e lamentou que estivesse na Série B do Brasileiro .
Nada era gratuito no discurso de Lula, e a primeira viagem de campanha com o vice Geraldo Alckmin (PSB) veio em momento conveniente: pesquisas apontam o avanço da sua candidatura na região e deixam em cheque a perspectiva de Jair Bolsonaro (PL) repetir o desempenho de 2018, quando teve em68% dos votos no segundo turno. Internamente, Lula tem dito que não há voto perdido — e os levantamentos de intenções de voto mostram, de fato, que a região pode estar experimentando uma virada à esquerda. O Datafolha mostra que o petista supera o rival nas pesquisas e reduziu a rejeição. Já Bolsonaro viu cair as intenções de voto e a avaliação positiva (veja o quadro abaixo). Levantamento concluído pelo Paraná Pesquisas no dia 20 já mostrara um Rio Grande do Sul dividido, com 46,3% aprovando Bolsonaro e 48,6% desaprovando.
As razões para os novos ventos nos pampas são variadas. O fator econômico, como em todo o país, influenciou, em especial a alta dos preços. “Sobre a situação econômica dos entrevistados no Sul, em março, 41% diziam que tinha piorado. Agora são 51%”, diz Luciana Chong, diretora do Datafolha. Lula sabia disso ao centrar o seu discurso em solo gaúcho nos preços dos alimentos, dos combustíveis e do botijão de gás. Outra variável pode estar ligada à saída da corrida presidencial de nomes de centro como João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB) e Sergio Moro (União Brasil). Em cenários que incluíam os três, a vantagem de Lula era de 6 pontos. Sem eles, subiu para 17. “É possível que o eleitor de centro, sem uma candidatura competitiva, migre para Lula por causa da rejeição a Bolsonaro. São eleitores que podem dar importância maior ao vice e, nesse sentido, Alckmin é um grande ganho”, avalia o cientista político Lucio Rennó, da UnB.